tag:blogger.com,1999:blog-59554508278215936882023-11-15T15:34:47.599-03:00Tudo TusquinhaContos, máximas e comentários de Ayrton Baptista Junior. Cinema, pernil com verde, paralelepípedos das calçadas de Curitiba, música, teatro, postes, AM-FM, amores e vexames...Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.comBlogger59125tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-13730066437892425832012-01-28T23:58:00.002-02:002012-01-29T00:00:19.873-02:00Michel Teló encontra Angela Ro-RoFossa, fossa<br />Assim você me mata<br />Sai, não te quero. Sai, sai não te quero<br /><br />Preguiça, preguiça<br />Assim você me mata<br />Sai, não te quero. Sai, sai não te quero<br /><br />Sábado sem balada<br />A soneira começou a pesar<br />E nem vi a menina mais linda<br />Na vadiagem resolvi me deitar<br /><br />Fossa, fossa<br />Assim você me mata<br />Sai, não te quero. Sai, sai não te quero<br /><br />Preguiça, preguiça<br />Assim você me mata<br />Sai, não te quero. Sai, sai não te quero<br /><br />Sábado sem balada<br />A soneira começou a pesar<br />E nem vi a menina mais linda<br />Na vadiagem resolvi me deitar<br /><br />Fossa, fossa<br />Assim você me mata<br />Sai, não te quero. Sai, sai não te quero<br /><br />Preguiça, preguiça<br />Assim você me mata<br />Sai, não te quero. Sai, sai não te quero<br /><br />*****<br /><br />Letra: Ayrton baptista Junior, 28 de janeiro de 2012.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-73934697613343305352011-03-05T01:46:00.007-03:002011-03-05T02:25:15.636-03:00Os Bobos...: Shakespeare com algodão doceQuanto menos você perguntar o que se passa em <strong><em>Os Bobos de Shakespeare </em></strong>melhor. O lúdico monólogo que o excelente Thadeu Peronne desenvolve em teatros e escolas é estranho a muitos adultos, mas, embora não seja infantil, é claríssimo a quem os degusta sensitivamente: as crianças.<br /><br />O encenador Laércio Ruffa e o roteirista Edson Bueno costuram os personagens do autor inglês com luz mínima (do belo cenário de Paulinho Maia) e leveza de algodão doce. Quer entender melhor? Esqueça Shakespeare!<br /><br />Perrone é um andarilho de idade incerta que se apropria de um baú tentando desvendá-lo. Sua curiosidade é alimentada por uma marionete imaginária. Juntos na voz do ator, ambos criam um lúdico e (intencionalmente) ininteligível diálogo que acentua a infantil curiosidade dos personagens.<br /><br />A seguir, o monólogo traduz o catatau de personagens (Romeu, Otelo) para o carioca esperto, o bêbado, o cirandeiro músico nordestino, o apaixonado. Ao se despedir destes tipos, Perrone encontra a caveira que conversa com Hamlet e retoma o novelo que o conduz novamente ao andarilho.<br /><br />Fiapos de outros teatros vêm à cena em <em>Os Bobos de Shakespeare</em>: os cabarés de <em>A Dama da Noite</em> e <em>HamletMachine</em>; a tradição nordestina (<em>Solte o Boi na Rua</em>) das peças de Ailton Silva, o “Caru”; e o marionete europeu adulto-intimista.<br /><br />Há também saudades televisivas dos anos 80. Os primeiros movimentos têm os pés no videoclipe <em>Thriller</em>, um clássico de Michael Jackson: o ator-arlequim surge da fumaça com as pernas milimetricamente arqueadas. Há ainda o deboche politicamente incorreto de <em>TV Pirata</em> (citação à Stevie Wonder).<br /><br />Com um perfeito domínio do teatro físico (rigor de todos os movimentos do ator, do pescoço ao tornozelo) e sem criar qualquer intervalo na passagem de um personagem para outro, Tadeu é um catalisador de extremos: o drama e a comédia; a vanguarda e o estabelecido; o popular interiorano e a metrópole sofisticada.<br /><br />Se você é educador e confia na inteligência de seus alunos dê uma chance para <em>Os Bobos de Shakespeare</em>.<br /><br />(Ayrton Baptista Junior)<br /><br /><strong><em>Os Bobos de Shakespeare</em></strong><br />Monólogo com Thadeu Perrone<br />Montagem da Serial Cômicos<br />Roteiro de Edson Bueno<br />Direção de Laércio Ruffa<br /><br />*****<br /><br />Escrito em 2007, para o Curitiba Interativa.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-25234277743696971722010-10-06T10:58:00.001-03:002010-10-06T11:00:44.985-03:00Meus Grandes Fracassos da Minha Humanidade-IIIFalei em suicídio. Ela disse pr’eu ter calma e ligar depois da novela.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-67780254018233862402010-09-16T11:12:00.025-03:002010-09-16T13:39:22.443-03:00Quando Belarmino e Gabriela ouviram rock<em>“As mocinhas da cidade são bonita e dançam bem”</em><br /><br />(<em>Mocinhas da Cidade</em>, composição de Nhô Belarmino, 1959)<br /><br /><br />As mocinhas da cidade são bonitas, dançam bem e são ignoradas. Em 1993, a prefeitura de Curitiba fincou o Conservatório de MPB no Largo da Ordem e muitos dos agentes ali instalados apenas repetiram caminhos já consagrados do que é Música Popular Brasileira: Noel Rosa, Dorival Caymmi, Cartola, Pixinguinha, Tom Jobim, Chico, Caetano, Gil, etc...<br /><br />A dupla Nhô Belarmino (1920-1984) e Nhá Gabriela (1923-1996), referência básica da cancão curitibana, ainda não se fez dona desta casa talvez porque falte a percepção de que a música feita aqui jamais terá vez nos bailes afora se não ofertar uma gritante originalidade. Então, que Curitiba sirva uma... pororoca da canção do Batel com a sonoridade do Boqueirão!<br /><br />Não peço aqui uma passeata que ordene a execução de <em>Mocinhas da Cidade</em> e, tampouco, sua imediata aceitação. Só quero que ela seja ouvida, vomitada, incorporada e agredida. Por isso, sugiro uma radicalização da música urbana quanto à <em>Mocinhas </em> e suas descendências periféricas-rurais: ou a adoração feito lua-de-mel ou a alucinada sangria com tiros à queima-roupa. Os dois caminhos hão de tornar a música de Curitiba mais urgente e vibrante, pois técnica e bem aplicada ela já é.<br /><br />A pergunta não é “qual a banda de rock que vai explodir nacionalmente” (como se a modernidade apregoada em Curitiba ficasse mais lustrosa por conta do rock), mas “onde andam Campinho e Campeiro?”. O pop de Recife incorporou o maracatu. A moderna música de Porto Alegre não quer ser vanerão. Adotado ou escorraçado, o regional foi escutada e serviu para apontar uma estrada diferente da trilha de Londres, Berlim ou São Paulo. Uma estrada que até cruza com a das metrópoles, mas com legítima via própria. <br /><br />(Ayrton Baptista Junior)<br /><strong></strong><br /><br />Escrito em 2005.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-61665404408183290132010-09-02T14:15:00.008-03:002010-09-02T14:41:54.195-03:00No viés da cortina escuraMeu mundo caiu na primeira faixa do lado A...<br /><br />... entre recortes de jornais amarelados dos tempos (todos) em que não sorrimos.<br /><br />... podando do claro o avanço do viés da cortina escura no escape da janela.<br /><br />... no desconforto de um novelo de roupas amontoadas que absorvem duas laudas inteiriças e uma terceira a ser preenchida de um escrito que vomita à lógica.<br /><br />... e na estampa de um gênio em transe na capa de um livro.<br /><br />... e na imagem de mulheres e homens que sonhavam de faixas e sandálias e gritavam abaixo e contra.<br /><br />... num imaginário armazém de cabeças de senhores encastelados e cortados sob a violência que destila um vermelho expresso de sangue no taco descolado do piso que se alimenta de pó.<br /><br />... no redemoinho da memória de um pátio de escola frustrado por não ser quartel.<br /><br />... entre xícaras de café tomadas pelos dias e pelas moscas.<br /><br />... dentro de um pacote de supermercado que gruda extrato de margarina e pães de meses.<br /><br />... e num pedaço de papel amassado onde o tingimento azul da caneta mais barata escreveu o nome composto da menina mais bonita.<br /><br />... envolto no grito não gritado de farra farsa de cidade que brada Europa.<br /><br />... e na ânsia de querer ver extraditada uma unha.<br /><br />... e no medo do revolto dragão desenhado em página dupla.<br /><br />... desesperado por não ter partido a cabeça numa corrida contra a parede branca e consciente de que não será iluminada.<br /><br />... sem forças para pesquisar uma faca entre pilhas gastas e moedas em desuso.<br /><br />... na ausência da coragem para que o pulso sirva à lâmina.<br /><br />... no arrependimento de não ter sido a palavra final da discussão.<br /><br />... na diplomacia de não ter cuspido, cunhado e grunhido um palavrão.<br /><br />... na fisionomia de acomodado que finge aceitar: é assim.<br /><strong><br />Meu mundo caiu na fraqueza do abrigo que ceifa a mão quando ela é desejosa por abrir a cortina.</strong><br /><br />(Ayrton Baptista Junior, 1999)Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-62155139726886413712010-07-12T11:26:00.011-03:002010-07-12T12:16:23.857-03:00O dia em que Isabelle Huppert (enfim!) me conheceuEm 1991, fui ao cine Luz, aqui em Curitiba, ver <em>Um Assunto de Mulheres</em>, filme de Claude Chabrol, e saí encantando com a atriz Isabelle Huppert, da qual nunca ouvira falar.<br /><br />Desde então, tal como já fizera embalado pelas também francesas Miou-Miou, Isabelle Adjani, Sandrine Bonnaire e Beatrice Dalle, fui atrás de tudo o que pudesse ver com a moça, cujo nome pronunciava de forma errônea: "Uperti". <br /><br />Vi de uma ponta em <em>Dois Aventureiros e uma Mulher</em> à <em>Mulheres Diabólicas</em>, com Sandrine, <em>Amor à Primeira Vista</em>, com Miou;<br /><em>Um Amor Tão Frágil</em>, <em>Loulou</em>, com Gerard Depardieu, A Professora de Piano (outra magnífica atuação!), <em>Salve-se Quem Puder — A Vida</em>, com Nathalie Baye e outros tantos (filmes de Chabrol, Michel Deville, Bertrand Blier, Diane Kurys, Jean-Luc Godard, Michael Haneke) e cismei que um dia conheceria aquele mulher. Imaginava até uma peça de teatro com as minhas musas.<br /><br />Pois não é que em fevereiro de 2003 a Bebele veio mesmo? Peguei um ônibus, fui a São Paulo, mas não consegui entrar no teatro SESC Consolação. Lá fora, conversei com um, outro, até que cheguei a produtora, graças ao motorista que transportava a atriz. Mostrei algumas fotos que tinha dela, cuja discrição não me surpreendeu. Falei em português mesmo (citando nomes de filmes, atrizes) ela deu algumas risadas e foi embora, pois uma recepção a esperava no Consulado.<br /><br />Na rodoviária, chorei: encontrei não apenas uma atriz francesa, mas justamente a atriz que eu queria conhecer e que já a considerava a maior 12 anos antes. Conclui que se o mito e a fantasia chegaram tão perto, não havia porque criar tanto impasse na vida real.<br /><br />Escrito em 2006.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-40868955555962817212010-07-06T12:52:00.001-03:002010-07-06T12:53:43.342-03:00Meus Grandes Fracassos da Minha Humanidade-II“Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso” tu dirias que faço propaganda enganosa.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-43396182099015599012010-05-17T13:55:00.002-03:002010-05-17T13:56:09.701-03:00Máxima mínimaHá diamantes na vitrine e no cofre. Nenhum tão reluzente quanto o que depositamos na alma.<br /><br />(Ayrton Baptista Junior)Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-17271437243678856592010-05-12T12:32:00.001-03:002010-05-12T12:32:52.436-03:00Máxima mínimaUm final infeliz é apenas o início do próximo final feliz.<br /><br />(Ayrton Baptista Junior)Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-22340934718864115002010-05-09T21:50:00.001-03:002010-05-09T21:52:52.127-03:00MontanhasViver é escalar montanhas. Quando chegamos ao topo de uma, logo avistamos outra. Há risco de queda. Porém, nada que arranhe os valentes. É que estes admitem perder, mas jamais não lutar.<br /><br />(Ayrton Baptista Junior)Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-33303273098003916372010-05-06T09:54:00.004-03:002010-05-06T10:03:40.477-03:00Uma viagem por BA-BA-BA-BA-BABYDo que escrevi sobre arte, é o texto que mais gosto. É de 2002.<br /><br />Uma viagem por<br />BA<br />BA<br />BA<br />BA<br />BABY<br /><br />Ayrton Baptista Junior<br /><br /><br />Quando <em>Baba </em>se apresentou aos meus ouvidos, logo troquei de estação e fui à cata de outra música que me caísse melhor. Mas se fugi do refrão “Baba, Baby”, a batida da música, que eu sequer ouvira inteira, grudou na memória. E tanto ficou que, ao chegar em casa à noite, imediatamente a procurei no rádio. E foi assim um dia, outro dia, mais um dia. Já estava quase a pedindo no ar. Não tencionava “analisá-la”. Queria apenas ouvir a música pelo mesmo motivo que ouço outras melodias: simplesmente para ouvir música.<br /><br />Nas primeiras destas audições, creditava o meu interesse por Kelly Key à uma história pouco comum nas letras da MPB: a da mulher que festeja esnobar o homem pelo qual se apaixonara tempos atrás. Na música brasileira, é difícil para uma mulher dispensar o homem pelo qual sofreu.<br /><br />Em <em>Olhos nos Olhos</em>, de Chico Buarque, por exemplo, a mulher afirma: “Quantos homens me amaram bem mais e melhor que você”, mas, logo adiante, nega a certeza de que não querer mais vê-lo: “A casa é sempre sua, venha sim”.<br /><br />Não se trata, claro, de comparar Andinho, o letrista de Baba, com um dos maiores compositores brasileiros — e tampouco de afirmar a letra de <em>Baba </em>como avalista de alguma poesia. Apenas constato que as mulheres se comportavam diferente em outras letras. Mas, ainda sobre Andinho, é bom atentar para o moço que coloca em <em>Anjo</em>, outra da moça, duas frases magníficas:<br /><br />“É de pedra a porta do seu coração” e “Te venerar é minha sina”.<br /><br />Era, porém, a batida primitiva da música, e não a letra, que me conquistava. Assim como em <em>Cabeça</em>, de Walter Franco, e em alguns trabalhos de Arrigo Barnabé parecia não haver música em <em>Baba</em>. O som que parece o de uma caixa de madeira, numa primeira escuta, soa tão limitado que parece não ter nada ali. Mas tem. <em>Baba </em>é o buraco da agulha pelo qual passa um camelo.<br /><br />Certa noite, uma ouvinte pediu Kelly Key e eu gravei <em>Baba </em>para ouvir a rodo. Uma, duas, dez vezes seguidas. Aos poucos, comecei a escutar a música por partes. A garota é uma ótima intérprete. Em <em>Baba</em>, a mesma história é contada três vezes. Na primeira, a voz é mais agressiva e na segunda, mais afirmativa. Na terceira, Kelly Key leva a música adiante como se comandasse uma bateria de escola de samba no instante em que há a “paradinha”. Neste ponto, <em>Baba </em>revela ser filha dileta do samba do breque. Esta linhagem, o falar carioca do samba, não é a única ascendência de Baba, que também alia rock industrial, marcha e modinha.<br /><br />Baba me retornou à memória formas geométricas (quadrados, retângulos) de pinturas em branco-e-preto que esnobei — e continuo a esnobar. Kelly Key também me fez compreender melhor, intuitivamente, um “olhar” matemático-formal sobre arte — experiência semelhante tive no cinema com <em>O Ano Passado em Marienbad</em>, de Alain Resnais. Não acabou: lembrei do vermelho nas pinturas de Arcangelo Ianelli e dos feixes brancos sobre fundos escuros dos filmes de Man Ray —aqui, um fascínio pré-Kelly Key.<br /><br />Imaginei o refrão<br />BA<br />BA<br />BA<br />BA<br />BABY<br /><br />Ou<br /><br />BABA<br />BABA<br />BA<br />BABY<br /><br />escrito e achei uma insólita citação ao jogo de palavras que mais se vale da geometria e que mais atrai os matemáticos: a poesia concreta (da qual, aviso, não sou fã).<br /><br />Defendo as citações (claro que não pensadas) do canto de <br />Kelly Key (ou seja, obra dela) à modinha em “istoépravocêaprenderanuncamaismeesnobar” (lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalaalalalala),<br /><br />e ao samba de breque em<br />“que só quer me iludir/me enganar/isso é caô”<br /><br />Friso também as duas alusões ao samba de enredo, quando tem início a terceira narração da história:<br />“ôô”<br />(paradinha, quando se ouve um suposto estalar de prato de bateria);<br />“ ‘ce não acreditou/<br />você sequer notou/<br />disse que eu era mui-to-nova-pra-você”<br />(seguido de dois toques que lembram o bumbo reiniciando a marcha).<br /><br />O que a aproxima da música atonal é a sua batida, aparentemente despida de melodia (para percebê-la, tente driblar a voz da cantora).<br /><br />O retângulo vem por<br />“BABA/BABA”<br />e o quadrado, da base rítmica, cujo acorde sempre se fecha, não restando nada “em aberto”.<br /><br />Por vezes, achei que tornara muito cerebral o que poderia não ser mais do que um brinquedo de adolescentes. O mais curioso, porém, é o fato de Kelly Key não me ter empurrado para a música pop, mas para a música clássica. Depois de ouvir Baba várias vezes, tive o desejo, o impulso (sei lá o porquê) de ouvir Wagner, Mozart e Mahler e outros compositores que sequer estavam entre os meus preferidos. Coloquei a abertura de Tannhäuser para escutar. Ouvi várias vezes e me atirei em outros clássicos com uma volúpia que há muito não tinha para o gênero — alguns CDs já adormeciam numa velha caixa de sapatos.<br /><br />Óbvio que a intenção de Andinho, DJ Cuca e de Kelly Key (os criadores) não foi a de fazer uma música com tantas possibilidades. Pois, fizeram! Baba é um caso em que o sistema aparece à frente da margem. Uma canção que costura aspectos do que se chamou de vanguarda no século passado (música atonal) com a música carioca — seja a de “raiz” ou a nova música urbana — não apenas deve ser catalogada como Música Popular Brasileira como também é capaz de alimentar aos que buscam, desesperadamente, renová-la. A melodia do trecho corrido “Isto-é-pra-você-aprender-a-nunca-mais-me-esnobar”, por exemplo, evoca Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga.<br /><br />Alguém ainda irá discorrer sobre as propriedades geométricas desta “singela” canção adolescente. Só lamento que Baba não tenha tocado no rádio nos anos 80, época em que reprovei duas vezes. Ambas em geometria.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-51480599199009357282010-04-30T10:37:00.003-03:002010-05-01T21:21:01.602-03:00Palavra sopradaUm sussurro denuncia o desejo. Palavra soprada, o nome da bela alcança a janela e encontra o infinito. Uma linha avista e avisa a palavra: “Eu sei desenhá-la!”. Traços tão belos e fiéis à palavra que, apaixonada, responde: “Não sei descrevê-la”.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-71705293261857514692010-04-28T17:27:00.002-03:002010-04-28T17:46:53.694-03:00Máxima mínimaVocê me ajuda a pintar a casa e eu te faço subir pelas paredes.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-24082451274681472762010-04-27T16:49:00.002-03:002010-04-27T16:56:31.452-03:00Sopros de Nova IorqueNão conheço Nova Iorque. Mas se Nova Iorque é a dos filmes eu estou em dia com o carnê dos cosmopolitas, pois habitam em Curitiba cenas que nem Woody Allen filmou. Vai ver.. é por isto que Francis Ford Copolla andou por aqui (em 2003).<br /><br />Noite destas, caminhava pela Comendador Araújo, quando fui assaltado pelo Saul do Trumpete. Não me levou dinheiro, nem documentos e eu fiquei no lucro da boa música. Saul e sua trupe disparam jazz de primeira, às sextas, na calçada do John Bull Café. Isto mesmo: na calçada! É o movimento do Jazz Sem Teto. Tem em Manhattan?<br /><br />Desembarca em Nova Iorque gente de todo tipo. Mas é covardia falar da XV, onde há artistas e chatos (alguns reúnem ambas as qualidades), músicos, poetas, pintores, artesãos e cartazistas ambulantes, mendigos e locutores de reclames, de segunda à domingo sem fechar para almoço. Então, passo ao Museu Oscar Niemeyer e ao Bosque do Papa, onde fauna e flora também são variadas.<br /><br />No “museu do olho”, sobram exposições que os estudantes curitibanos de 30 anos atrás só veriam se embarcassem para o Masp: Lasar Segall, Tomie Ohtake, fotografia alemã, tapeçaria belga, gravuras mexicanas. Ao redor, há piruetas de garotos que dançam movidos a funk e hip-hop (lembra do break?) e o passeio de dezenas de cachorros, e seus zelosos donos, num jardim que acolhe todas as raças.<br /><br />No bosque, distante da porção turista que se entusiasma com as casas polonesas, candidatos a Raul Seixas e Renato Russo arriscam no violão e, vez por outra, os batuqueiros do Boizinho Faceiro avisam que é a hora do maracatu. O Central Park não acabou: circunspectos senhores cumprem a rotina de caminhada, avós brincam com os netos e aquela árvore sente o aroma de <em>marijuana</em>.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-79177924718636621032010-04-26T18:18:00.001-03:002010-04-26T18:18:43.328-03:00Máxima mínimaUm homem só é forte quando reconhece que é fraco.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-41914819206824762092010-04-22T13:06:00.004-03:002010-04-28T13:45:51.720-03:00Preciso Dizer Que Te AmoEm 1990, vi <strong>Bebel Gilberto</strong> num vazio teatro Paiol. Se tanto, umas 30 pessoas na plateia. Até então, pra mim, ela era apenas a moça do dueto <em>A Mais Bonita</em> com Chico Buarque, a mais bela das canções de Chico. Quis comprar o disco, que sequer havia. Ela cantou <em>Preciso Dizer Que Te Amo</em>. Bebel nunca voltou a Curitiba, mas a ouço de novo porque... eu preciso dizer que te amo!Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-40893469791450575172010-04-21T14:07:00.002-03:002010-04-21T14:11:54.695-03:00O maior jogo da minha históriaNunca ter visto o Coritiba ganhar um taça em casa contra o Atlético é uma frustração no meu currículo de torcedor. Se não basta este motivo, ofereço mais dois: eu estava lá em 1983, quando Freitas perdeu aquele gol feito; eu estava lá em 1990, quando Berg cometeu aquele gol contra. Sem dúvida, este clássico precisa ser o maior da história.<br /><br />Chego uma hora antes ao Couto Pereira. Já não há mais lugar entre os poucos (12, acho) do setor de imprensa escrita, o que força eu e outros colegas a vermos o jogo nas cadeiras de torcedor. Já que me empurraram para a torcida… o jeito é torcer!<br /><br />Temo ao ver Alex Mineiro em campo. Afinal, é mítico de um Atletiba promover renegados, como Henrique Dias, ou ressurreições. Alex não incomoda, mas Paulo Baier… santo travessão!<br /><br />Eu lá vendo e anotando. Chapéu em Vangeas. Como joga este Marcos Paulo! Anoto e levanto da cadeira pra gritar o gol de Rafinha… pra fora. Tá pra sair o gol, o jogo é nosso, ninguém mais tira. Ou tira? Tira Edson Bastos o doce da boca de Paulo Baier. Santo goleiro!<br /><br />Intervalo: 0 a 0. Comento com os amigos que, no início, Tartá estava querendo jogo. Reinício. Rafinha toca para Marcos Aurélio, aquele que, na pior hora, pôde fazer as malas, mas preferiu ficar. E fica mais um gol de Marcos Aurélio para a história do Atletiba. Sai do chão!<br /><br />O torcedor comemora. O jornalista não tira o olho do jogo e vê Tartá “ele quer jogo!”, a sós com o goleiro na área. São Edson Bastos! De novo!<br /><br />Placar: 1 a 0. Mesmo o empate nos mantém na ponta, mas voltar domingo não dá. Há risco do torcedor estar num estádio e o campeão em outro. Como fica o jornalista?<br /><br />Ah… esqueci de falar que o Atletiba também eterniza promessas. Aí vai Geraldo, o piá angolano. Ele entorta Manoel e Chico, ainda faltam 16 minutos para o final, entra na área e… o Verdão é campeão! Incontestável!<br /><br />Eu estava lá quando Carlinhos Paraíba e Keirrison aplicaram 2 a 0 em 2008. Mais: eu estava lá no 5 a 1 de 1995. Aqueles 5 gols valeram muito, mas os 2 deste domingo valeram muito mais. Este Atletiba consegue ir além de “o maior clássico da história”. Nem os títulos na Arena da Baixada, nem o Maracanã de 1985 superam. É este o dia de futebol que vai comigo até o dia do Juízo Final. O maior jogo da minha história!<br /><br />*****<br /><br />18 de abril de 2010: Coritiba 2 x 0 Atlético. Coxa campeão paranaense.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-12382113303129873512010-04-20T11:39:00.005-03:002010-04-20T12:09:26.107-03:00Círculos ao redor da mesaAndava em círculos ao redor da mesa. Teias de pó e aranhas pisoteadas o cercavam. A poeira se acumulava quanto mais as janelas se abriam. Ela permitia ao vento que ventasse, mas se um sopro varresse a poeira, as janelas morreriam em estrondos de pás de cimento.<br /><br />Uma multidão de portas abertas o rodeava e ele vivia a dizer a ela o que dissera havia pouco. Ela permanecia ali a ouvir o que ele dissera ontem, o mesmo que dissera anteontem com as mesmas vírgulas e exclamações. No íntimo, ele queria que ela fugisse dali. Não desejava vê-la partilhar de seus dias amargos. Penumbras e sobras de primavera se digladiavam naquele quarto.<br /><br />Talvez sem querer, ela havia estacionado seus dias ali. Após muito falar ele e ouvir falar ela, não havia mais o que falar e ouvir. Para que o silêncio não fosse denunciado, pontos perdidos serviriam aos pares de olhos. Ela ainda olharia as portas e até as atravessaria. Tudo para fazê-lo ver que nada ali era miragem.<br /><br />As noites embutiam calor e se anunciavam intensas. Se cumprida a intensidade, raios de sol entrariam por todos os poros. Mas o encontro não terminaria em abraços, adeus ou até logo. Numa quase madrugada, ao tentar cruzar os olhos seus com os dela, perceberia estar de volta só. Algum sopro de vida passou perto e ela embarcou.<br /><br />Ele nada mais diria. Se debruçaria sobre a poeira e continuaria a andar em círculos. Vez que outra queimaria fotografias amareladas. O fogaréu as levaria e elas perderiam o amarelo.<br /><br />O incêndio tornaria os retratos ainda mais presentes. <br /><br />*****<br /><br />Ayrton Baptista Junior, em 2003Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-78239657386884905672010-04-13T09:24:00.000-03:002010-04-13T09:25:13.166-03:00Máxima mínimaJohn Lennon só era a favor da paz porque no tempo dele não existia telemarketing.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-45752003806818923002010-04-12T01:09:00.004-03:002010-04-28T13:47:09.621-03:00Trago Traços e Teço à TiTeço a noite em linhas afáveis. Arrisco quase e em pedaços que ampliam formas vôo tudo. As linhas, sim, finas são tênues. Não há o que ou mãos a provê-las de espessura.<br /><br />Trago traços trilhados e, fraco, crio e falho num dia que não é mais ontem. Vejo vãos aptos ao abismo e movo crenças em um jorrar coberto de folhas baratas e urgentes. Percebo falharem espelhos, mas não rosto, lágrimas e verbos em desistências. Estes soluço a conjugar na pessoa que sou, mas meu desespero reprova em gramática.<br /><br />Na esquiva ao abrupto, volto à tecelagem e, tranquilo, traço leve. Entre linhas que me são mães, noto um berço que me adota em almofadas. Se algo ocorre na rua central já não é o meu nada. Aplico em vida e as onomatopéias selam horrores que em mim se aposentam.<br /><br />Nas linhas que me são criadas deixo pontas de passos calmos e guris. Ao sábado de luz tal a sua, penso um soneto que caia música em nós. Falto ao acorde, não cifro ao solista, nem sei partitura, mas ouço como ouço a música. Em frente ao verso, entro em asas, e no êxtase, caio em graça.<br /><br />Teço à noite e noto luzes em casarios. Há muitos e mais a tecer. Finco as linhas que me são aqui. Se frágeis, não apenas elas. Nelas, vivo o quanto é meu, mas choro porque não há nós. E cravo em mim, na falta de nós, a ausência de ti.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-64073584616530344812010-04-09T13:02:00.000-03:002010-04-12T00:19:41.898-03:00Máxima mínimaAmar é... lembrar a ela que tem liquidação no Shopping Total.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-54091757498092196702010-04-07T09:22:00.006-03:002010-04-28T13:45:11.343-03:00AcasaladasMãos tateiam, brincam e se fecham: uma na outra.<br /><br />Acasaladas percebem: antes de se tocarem já estavam coladas.<br /><br />*****<br /><br />Ayrton Baptista Junior, abril de 2000.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-6870422335046998662010-04-05T15:37:00.005-03:002010-04-05T16:15:22.245-03:00À festa com Helena e Maria LuciaFalo aqui sobre cinco minutos que me são tão fundamentais quanto o oxigênio: o encontro de Helena Ignez e Maria Lucia Dahl em <strong><em>Cara a Cara</em></strong>, de 1967. É o primeiro filme do Julio Bressane, escandalosamente bem falado, fotografado, musicado, montado, silenciado...<br /><br />Inicialmente, as belas se animam por uma festa. Em seguida, vestem trajes de época, num belo jardim, tendo a companhia de um amigo (João Paulo Adour). Aqui, há uma leveza de <em>Jules e Jim</em> às avessas evocando o cinema mudo: além da ausência de fala, joga-se com caras (ambas olham pra mim, tal como Anna Karina nos filmes de Godard), bocas e passos ligeiros, como num curta-metragem do Lulu de Barros dos anos 20. <br /><br />Creio ter visto tal seqüência umas 800 vezes porque me fixei na idéia de “ir à festa”. Ou seja, encontrei os meus heróis, os determinados que vão à festa.<br /><br />Sou tão apegado a <em>Cara a Cara</em>, que sequer empresto a fita por não querer ver minhas musas dormindo fora de casa... De tanto ver o encontro, acabei tomando parte nele, pois conheci as duas (incrível: Maria Lucia e eu fazemos aniversário no mesmo dia).<br /><br />Passa de vez em nunca no Canal Brasil e tem outros pontos brilhantes:<br /><br />1) o político (Paulo Gracindo) discursando para um plenário vazio (o canto sem letra de Maria Bethânia é a trilha que detona a necessidade de um grito).<br /><br />2) a dificuldade de comunicação: Luciana (Helena) e seu namorado (Paulo Padilha) se encontram numa praça e sentam um em cada canto.<br /><br />3) o nervosismo dos poderes político e religioso reunidos num terraço. Aqui, o cenário e o passeio da câmera lembram <em>Terra em Transe</em>, o que talvez explique porque <em>Cara a Cara</em> é pouco citado. Mas na ponte Glauber Rocha-Julio Bressane o discípulo sai-se melhor do que o mestre. <br /><br />4) o desgosto no rosto do frustrado burocrata (Antero de Oliveira) que cuida da mãe doente (Vanda Lacerda) e sonha com uma bela garota (Helena).<br /><br />Bressane tem dois rostos: o angustiado (Antero) e o animado (João Paulo). Eu sou o segundo, o que vai à festa com a Helena e a Maria Lucia! <br /><br />*****<br /><br />Ayrton Baptista Junior, janeiro de 2005Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-14950482561146813432010-04-02T14:55:00.001-03:002010-04-28T13:47:52.694-03:00Cinema, a peça, é o delírio dos cinéfilosFelipe Hirsch é mentiroso. No palco do Guairinha, o diretor avisa que <strong><em>Cinema</em></strong>, a nova investida da Companhia Sutil, está quase no ponto, mas que veremos ainda um ensaio aberto. Balela. Para delírio dos cinéfilos, Cinema, a peça, está pronta!<br /><br />O público ocupa cadeiras no palco do teatro. À sua frente, o elenco incorpora cinéfilos espalhados num cinema de poltronas vermelhas (iguais à do extinto Ritz, da XV). O filme (que não vemos) já começou e a iluminação reproduz o efeito de claridade provocada pela tela. A peça (que vemos) já começou.<br /><br />O que<em> Cinema</em> exibe é a vingança dos cinéfilos. Não entendeu? É que seres desta espécie, como eu, são frequentemente acusados de verem a vida dos outros, a dos personagens, de não viverem. Meu irmão! A gente vive um bocado!<br /><br />O som denuncia vários gêneros (trechos de comédia romântica, musical, aventura, drama, Nouvelle Vague,<em> A Doce Vida</em>, <em>São Paulo S/A</em>) e, sem que a projeção pare, os jovens atores da Sutil compõem esquetes num ritmo de baile que lembra o próprio: <em>O Baile</em>, filme de Ettore Scola (no salão deste, sem diálogos, passam 50 anos da história da França).<br /><br />Nesta sessão corrida há a espectadora com as falas decoradas do melodrama, os estudantes que dormem na mostra alemã, o encontro de um casal que discorre longamente sobre os contra-planos do novo cinema oriental, a que incorpora uma Judy Garland e dança sobre as cadeiras, os que são tomados pelo rock, romances feitos e desfeitos, e um sem-fim de amassos, um deles com a participação da mulher de duas cabeças.<br /><br />À certa altura, a sessão é interrompida por um diretor que fala, em russo, sobre a sua arte. Felizmente, o sujeito vai embora ao perceber que não agrada. Ele desconfia que o melhor cinema não é o que se explica, mas o que é visto e vivido. Dentro do cinema.<br /><br />*****<br /><br />Ayrton Baptista Junior, 2010Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5955450827821593688.post-89384925919301639502010-03-30T15:14:00.000-03:002010-03-30T15:15:01.828-03:00Meus Grandes Fracasssos da Minha Humanidade-INão suporto mulheres inteligentes. Elas sempre percebem a minha ignorância.Ayrton Baptista Juniorhttp://www.blogger.com/profile/17500014016649907671noreply@blogger.com0