terça-feira, 9 de março de 2010

Árvores Abatidas: Rosana Stavis em casa

Rosana Stavis talvez não saiba a grande atriz que é. Mas quem ganhar um tempo vendo o monólogo Árvores Abatidas vai saber. Ela precisa somente do ótimo texto do austríaco Thomas Bernhard (1931-1989) e do violinista Roger Vaz, que a acompanha no palco, para transformar um tapete e uma poltrona no cenário da nobre recepção ao “famoso ator do teatro nacional que faz até telenovela”.

Com deboche e decepção, Rosana apresenta o baile da inveja e da mediocridade que é um encontro da classe teatral de Viena. Neste sórdido ambiente, o sucesso alheio soa como crime e a queixa comum é “mais valem cinco minutos na televisão do que trinta anos de teatro”. No olhar dela, todas aquelas pessoas eram admiráveis em seus dias de juventude e agora, mal esbarradas na meia-idade, já são velhacas.

Deve ser horrível conviver com os artistas de Viena… Mas quem se julga acima dos medíocres não se reconhece como um deles: eis a armadilha que o texto prepara para a protagonista.

Rosana é quatro em uma: interpreta a atriz que enxerga na morte da melhor amiga o sepultamento de seus sonhos; se multiplica nas vozes dos personagens secundários; atua como narradora em terceira pessoa; e encerra falas com recursos de cantora lírica, dialogando magistralmente com o violino. No auge da sátira, solta uma Aracy de Almeida para criar uma ranzinza crítica.

Quanto mais a história avança mais Rosana e a poltrona se aproximam do espectador da Casa do Damasceno, onde a peça dirigida e adaptada por Marcos Damasceno é encenada. O nome do local tem tudo a ver com a atriz. No palco, Rosana está em casa.

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Ayrton Baptista, em agosto de 2008

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