sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Crônicas carnavalescas-I: Atravessando o silêncio

Há quase 50 anos, alguém sugeriu que Curitiba oferecesse outras artes aos turistas durante o Carnaval: orquestra sinfônica, exposições, teatro, etc. Desconheço o pai da criança (aproximados 17.385 se apresentam como tal), mas reconheço que tão duradoura ideia merece tombamento pelo Patrimônio Histórico.

Tão senhora de idade quanto a Bossa Nova, esta discussão me torna um ferrenho cultivador das nossas serpentinas. Afinal, a morte do Carnaval (que existe, sim, tenho testemunhas) seria a morte do debate.

Lamento que não haja mais a contenda entre Glauco Souza Lobo, folião e ex-presidente da Fundação Cultural de Curitiba, e Ernani Buchmann, publicitário e integrante do CCCC (Comando de Caça aos Carnavalescos de Curitiba). Na década de 1980, eles se digladiavam na arena do QI na TV, programa mediado pela jornalista Rosane Albino na RIC TV, canal 7.

Eram debates calorosos. Superavam até os sopapos que os dirigentes das escolas de samba trocavam durante a apuração no Instituto de Educação (neste dia, sem educação). Certa vez, Buchmann tachou de pálido o desfile. Indignado, Lobo acusou o adversário de ser um folião enrustido, de ter ameaçado sambar durante a passagem da Mocidade Azul pela Marechal Deodoro. Buchmann rebateu, afirmando que seu tímido bater de pé esquerdo era sinal de impaciência, vontade de ir embora.

O programa acabou, mas o debate sobre o carnaval de Curitiba continua sendo o grande evento do carnaval de Curitiba. Porém, já não se fazem mais carnavais como antigamente: o Glauco Souza Lobo não aparece mais para delatar quem ousa sambar atravessando a passagem do silêncio.

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